quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Racismo

Nunca na minha vida achei que fosse uma pessoa racista. Tanto me dou bem com brancos como com pretos (vamos chamar as coisas pelos nomes)  e um dos meus melhores amigos na primaria era o Ochoa, um pretinho pequenino que me deixou cortar um dos seus pequenos caracóis quando foi morar para outro sitio. Também já tive um grande amigo cigano, e sempre vivi bem com tudo isto. Ao longo dos anos sempre fui das primeiras pessoas a defender quando os preconceitos alheios vêm ao de cima. Mas há certas situações em que também reconheço que são os próprios a provocar o racismo contra eles.
Aqui há umas semanas na feira que se realizou por cá e a qual só fui comprar castanhas e chocolates uma jovem cigana (vamos novamente chamar as coisas pelos nomes ok?) acompanhada de outra perguntou-me se estava interessada num dos seus perfumes, ao que eu, educadamente e repito EDUCADAMENTE, respondi "obrigada, mas não estou interessada" e segui caminho, quando dois passos a frente oiço uma dizer para a outra "deixa lá, elas (eu e a minha mãe) não querem porque gostam de andar a cheirar mal". Ora perante isto só me restou voltar atrás e novamente EDUCADAMENTE perguntar se tal observação era comigo, sujeita a que viessem de lá uns trinta dispostos a correr comigo, que nestes casos há sempre uns quantos escondidos a espera de afinfar em alguém. Ela lá respondeu a medo que não, que não era comigo (pois... pois) e segui caminho. Não entendo o que leva estas pessoas a achar que podem fazer todo o tipo de comentários que lhes passa pela mente, desdenhar de quem lhes paga para viver, sim porque sou eu e todos os outros que descontam que lhes pagam as rendas das casas e os subsídios chorudos que recebem, já para não falar dos produtos que adquirimos (da minha parte cada vez menos) nas feiras.
Ontem, num continente perto de mim, a hora de almoço, fui comprar umas coisas que me faziam falta e dirigi-me a caixa. Estava uma senhora a pagar as compras, um senhor e um cesto abandonado. Perguntei ao senhor se o cesto era dele, ao que ele me respondeu que não, e que não tinha visto ninguém  Agarrei nas minhas coisinhas e pus em cima do tapete e deixei-me estar calmamente a espera que o senhor acabasse de pagar as suas coisa. Estava então eu nos meus pensamentos, quando chegou uma senhora que pediu "com licença" e eu desviei-me do cesto, não achando que o que ela queria era passar a frente, e continuei no mesmo lugar da fila. A senhora começou a atirar com as coisas(comida) para o tapete, coisas essas que me acertaram e que me magoaram, que se juntaram as minhas, mas sempre a insultar-me, que eu era uma mal-educada, mal formada, que tinha passado a frente na fila.Calmamente tirei o separador das compras e separei as minhas das dela e aqui a coisa descambou. Disse-me directamente que eu era mal-educada porque lhe tinha passado a frente. Lá lhe expliquei a situação, que quando cheguei não estava ninguém com o cesto, que o cesto não garante o lugar na fila e que se precisava de fazer mais compras então que tivesse levado o cesto. Ela lá continuou na ladainha aos gritos e eu voltei a explicar, calmamente, que não podia ser assim, que tinha de haver respeito e que se assim fosse o que não faltava era pessoas a porem os carrinhos vazios na fila para garantirem o lugar e irem alegremente fazer as suas compras porque havia um esperto que tinha agido como melhor lhe convinha. A senhora, educada e formada que só ela, deu-me um empurrão, que já que lhe tinha passado a frente então que continuasse para pagar as minhas coisas, que não sabias quem ela era, que era uma racista e xenófoba, porque só estava a fazer isto por ela não ser do meu pais, que tinha vindo para cá há quarenta anos e que isto era uma miséria, que trabalhava nas urgências e que salvava vidas e lá continuou a desfiar argumentos como contas de rosário há no terço. Disse-lhe simplesmente que comigo ela não falava assim, que ela também não sabia quem eu era, paguei as compras e vim embora. Tudo isto perante o olhar inexpressivo da menina da caixa, que nem esperteza para chamar um superior teve. Agora pergunto eu havia necessidade desta confusão toda? Como é possível reagir a insinuações assim sem generalizar? Como é possível ser atacada desta maneira quando não fiz nada de mal e até estou no meu próprio pais, a cumprir as leis e regras que me são impostas? Como é que é possível uma pessoa explicar alguma coisa sem que se sintam logo atacados pela cor ou pela etnia? É difícil lidar com pessoas que embora formadas, não tenham um pingo de educação, onde o preconceito e o racismo começam precisamente na cabeça delas. É por estas e por outras que depois andamos todos a remar para lados diferentes, porque o preconceito começa na cabeça de quem se acha mais fraco, porque depois acabam por tirar do serio pessoas como eu que depois começam a tomar todos pela mesma medida. É triste, mas é verdade!

2 comentários:

L. disse...

Minha nossa, que paciência e sangue frio! Eu acho que muitas vezes o racismo começa da parte de quem ache que vai sofrer de racismo. São puras vítimas da sociedade na sua própria cabeça...Não sei como é suposto reagir-se nestas alturas.

Chloe disse...

Disseste ( e muito bem) no fim do texto, que é por assistirmos a determinadas coisas que depois passamos a generalizar.
Quando vou buscar os miúdos á escola, bem vejo a civilidade de certas etnias (vamos chamar a coisa pelo nome), os palavrões que dizem em frente de crianças e a forma como estacionam os carros impedindo outros de irem á sua vida. E ainda acham que têm sempre razão e que vão chamar o resto da família para nos convencer (dar um enxerto de porrada). Enganam o estado e enganam os clientes com os produtos que vendem... Claro que isto sou eu a generalizar, porque nunca assisti a nenhum acontecimento que abonasse a seu favor.